As férias escolares são um dos momentos mais aguardados pelas crianças, e também um desafio para muitos pais e cuidadores. Com a rotina alterada, surge a necessidade de criar atividades que entretenham, eduquem e, de preferência, envolvam a família.
Para crianças com APLV (alergia à proteína do leite de vaca), essa missão pode ser ainda mais delicada. Afinal, é preciso garantir diversão sem abrir mão da segurança alimentar.
Uma alternativa enriquecedora, prática e cheia de significado é a realização de oficinas culinárias em casa. Cozinhar com as crianças é uma atividade que estimula o desenvolvimento motor, emocional e cognitivo e, no caso de crianças com APLV, ainda contribui para a construção de uma relação positiva e segura com a alimentação.
Por que investir em oficinas culinárias durante as férias?
O tempo livre das férias pode ser uma oportunidade valiosa para fortalecer o vínculo entre adultos e crianças. Atividades práticas, como cozinhar, são mais do que simples distrações: elas promovem autonomia, senso de responsabilidade, criatividade e habilidades para a vida.
Além disso, envolver as crianças no preparo dos alimentos que elas consomem pode ser um passo importante na formação de hábitos saudáveis, especialmente em casos de restrição alimentar.
Ao compreender os ingredientes e o processo de preparo, a criança aprende a identificar alimentos seguros e a se posicionar de forma mais confiante diante das próprias necessidades.
Para as famílias que convivem com APLV, esse tipo de oficina pode representar também um espaço de acolhimento e empoderamento. Muitas crianças com alergias alimentares se sentem diferentes, excluídas em festas, viagens ou até mesmo na escola. Quando elas se tornam protagonistas na produção de receitas seguras e saborosas, isso ajuda a reforçar uma autoestima positiva.
Como planejar uma oficina culinária sem leite?
Não é preciso muito para montar uma oficina bem-sucedida. O mais importante é adequar a atividade à idade da criança, garantir segurança e escolher receitas livres de qualquer derivado do leite de vaca. A seguir, alguns passos que podem ajudar no planejamento:
- Escolha do tema ou tipo de receita: Pode ser uma tarde de “doces sem leite”, “mini pizzas veganas” ou “almoço dos pequenos chefs”. Ter um tema estimula a organização e o engajamento.
- Lista de ingredientes e substituições seguras: Sempre leia os rótulos com atenção, incluindo avisos como “pode conter leite”. Muitos alimentos têm derivados ocultos. Use apenas produtos que declarem “não contém leite” e prefira substitutos vegetais como leites de coco, arroz ou aveia.
- Preparação do ambiente: Separe os ingredientes com antecedência, organize os utensílios, lave as mãos com as crianças e explique as etapas do que será feito. Para garantir segurança, atenção à contaminação cruzada: utensílios e superfícies devem estar bem higienizados e livres de resíduos de leite. Use materiais exclusivos para receitas sem leite. Esse cuidado evita reações e ensina a criança, de forma leve, a se proteger.
- Aproveite o momento para ensinar: A oficina pode incluir pequenas lições sobre nutrição, higiene, segurança na cozinha e até matemática — ao medir os ingredientes, por exemplo.
- Incentive a autonomia com supervisão: Permita que a criança misture, amasse, modele e decore. Mesmo com as restrições, a experiência precisa ser lúdica e prazerosa.
Ideias de receitas sem leite para fazer com as crianças
Receitas simples são ideais para manter o foco e a participação ativa. Algumas sugestões que costumam agradar os pequenos e não contêm leite:
- Cookie de banana com amêndoas
- Frozen de maracujá e manga
- Hambúrguer de grão de bico com escarola
- Empadinha integral de frango com milho
- Bolinho de feijão
- Bolinho de mandioquinha com ervilha
Para quem busca mais inspiração, aqui está uma seleção de receitas práticas e seguras para crianças com APLV, testadas e aprovadas por famílias que lidam com a alergia diariamente.
A importância da convivência e da inclusão
As oficinas culinárias em casa podem ir além do momento entre pais e filhos. Uma dica interessante é convidar amiguinhos da criança, desde que todos estejam informados sobre a restrição e que os ingredientes sejam 100% seguros.
Isso contribui para a socialização e para que a criança com APLV não se sinta isolada. Quando os colegas participam de atividades adaptadas e percebem que a comida pode ser gostosa mesmo sem leite, criam-se laços mais fortes e uma compreensão maior sobre diversidade alimentar.
É também uma excelente oportunidade para envolver irmãos e outros familiares, reforçando o cuidado coletivo e o respeito pelas diferenças alimentares de cada um.
Um convite ao prazer de comer sem medo
Alimentar-se com prazer, segurança e afeto é um direito de toda criança. Ao transformar a cozinha em um espaço educativo, divertido e acolhedor, contribuímos para que a criança com APLV desenvolva uma relação positiva com a comida, sem medo, sem culpa e sem exclusão.
As férias podem ser, sim, um período de leveza, alegria e novas descobertas. E uma simples oficina culinária em casa pode marcar essa fase com memórias afetivas e muito sabor, mesmo (ou especialmente) sem leite.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 26, de 2 de julho de 2015. Dispõe sobre os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. 126, p. 61–62, 3 jul. 2015.
EDUCA MAIS BRASIL. A importância das aulas de culinária nas escolas. Educa Mais Brasil, 12 fev. 2019. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/a-importancia-das-aulas-de-culinaria-nas-escolas.
BRASIL. Ministério da Saúde. Eu quero me alimentar melhor: por que as habilidades culinárias são importantes para a alimentação adequada e saudável? Saúde Brasil, Brasília, DF, 1 dez. 2022, 16h58. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-alimentar-melhor/noticias/2022/por-que-as-habilidades-culinarias-sao-importantes-para-a-alimentacao-adequada-e-saudavel.